o que se perde enquanto os olhos piscam*
domingo, 24 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
A revolução é individual.
A gente se esquece de que grandes revoluções sempre começam assim: alguém percebe que tem algo errado, daí se manifesta. Um outro alguém ouve, pensa e se dá conta de que aquela pessoa tem razão, então une sua voz à dela. Assim as idéias vão contagiando e se transmitindo. Quanto maior o coro, maior a repercussão.
Todo mundo sabe que existe a fome, o aquecimento global, a devastação da Amazônia, os impactos ambientais, a violência, a dor. Todo mundo sabe também que tudo isso vem crescendo cada dia mais.
A questão é: pensamos no quanto de participação temos nisso tudo?
E, se pensamos, o que fazemos pra mudar isso?
É sempre mais fácil fingir que não vê, ou acreditar que, se o mundo está cada vez mais inabitável, a culpa não é nossa. Assim como também é muito fácil fazer esse discurso politicamente correto que, aliás, já é bem clichê, e permanecer encolhido em sua própria bolha.
A gente vive se gabando por ser humano, racional, cheio de esperteza, estilo e atitude. E eu falo por mim mesma e por você e por todo mundo – porque não existe alguém que se ache tão medíocre a ponto de nunca ter se vangloriado por um feito ou nunca ter tido um momento de narciso.
Daí, eu me pergunto: será mesmo que nós somos racionais ou vivemos repetindo hábitos e vícios que existem desde o homem das cavernas?
Será que a gente pára pra pensar na origem do que comemos, vestimos, pensamos, e propagamos através da fala, dos gestos, ou nos deixamos levar pelo que querem (mesmo que não digam) que a gente use, pense, pelo modo como querem que a gente aja?
Nos achamos muito cheios de personalidade e não enxergamos o quanto somos manipulados. E eu não falo de ser influenciado pela opinião de um colega, da família, ou pela política. Esses também contam, claro – mas eu falo, principalmente, de costumes que se estendem por gerações e que repetimos sem nos perguntarmos o porquê.
Sabe aquelas imagens da época do nazismo que impressionam mesmo quem tem apenas dois neurônios e 1% do coração? Elas estão presentes em nosso dia-a-dia, por mais que a gente teime em não enxergar – a dor é a mesma, só mudam os instrumentos e a vítima, mas o opressor é o mesmo: o homem.
Eu falo por mim: hoje eu vejo o mundo diferente e tento reconhecer o quanto contribuo, seja positiva ou negativamente, para seu panorama atual.
Não quero ser explícita (até mesmo porque se eu o fosse, teria que mudar o nome do blog) – minha intenção aqui não é convencer: é incomodar.
Tipo quando uma farpa entra no seu dedo e não tem ninguém por perto pra te ajudar a arrancá-la – você tem que dar ser próprio jeito, senão ela vai continuar a doer.
O problema é que essa farpa da qual eu me refiro não vai sair sozinha em uma bela manhã ensolarada por uma reação natural do seu corpo se você não tiver coragem de cutucá-la.
O que falta é cada um se dar conta de quanto do seu próprio corpo e dos seus pensamentos e atos pertencem a si mesmo.
Sempre que fazemos algo bacana é porque somos seres racionais, óbvio. Agora, se fazemos alguma coisa que não é tão boa, a culpa é sempre do danado do instinto.
Será mesmo?
Até quando vamos engolir e regurgitar essa desculpa esfarrapada de que ‘a carne é fraca’?
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